O que é ser artista? Porque é que alguém quer ser artista? Marcel Proust declarou que "graças à arte, em vez de ver um mundo - o nosso -, vemo-lo multiplicado, e há tantos mundos á nossa disposição quantos artistas originais houver".
Nelson Goodman, na sua teoria pluralista e construtivista, salientava a importância e o valor inerentes à construção de vários mundos, também eles com um conteúdo de realidade. Parece claro para qualquer artista querer derrubar todas e quaisquer fronteiras da apatia, do cinzentismo, da passividade, da inércia, mas sobretudo o artista luta pelo acto de criar. Essa criação atinge o seu auge quando acompanhada pela originalidade e pela diferença em relação aos mundos já construídos, ou seja, quando o novo irrompe do velho, substituindo-o e impondo uma nova visão no mundo e para o mundo.
Mas então porque é que nestes últimos dias somo confrontados na escola com jovens aspirantes a artistas (ou que até já se auto-denominam de artistas) a quererem ser e parecer um grupo uniformizado? A querer viver num "mundo" onde todos obedecem às mesmas regras e etiquetas? A orientar os seus comportamentos de acordo com um tradicionalismo, um "praxis" velha e gasta, onde nada se põe em causa e ninguém contesta? Ou por outras palavras, porque é que o número de alunos da ESAP trajados e a praxar aumentou significativamente no início deste ano lectivo? Será isto consequência de alguma lacuna na vida destes jovens artistas? Estarão eles à procura de algo que lhes falta?
Analisemos o seguinte raciocino: se estudo no ensino superior sou um privilegiado, alguém notável a quem foi concedida uma honra, sou especiale melhor em relação àqueles que não atingiram este patamar. Logo, devo finalmente dar início à minha emancipação após tanto tempo de frustração. Quero ser como aqueles que usam traje e impõem respeito na escola, mas também fora dela. Quero ser visto como alguém importante, e andar com outros iguais a mim, obedecendo os superiores e subjugando os inferiores.
É ridícula a necessidade que as pessoas têm em desperadamente tentar fazer parte de um grupo onde entre iguais consigam sentir-se especiais e até superiores.
Querem se emancipar mas será emancipação quando todos fazem o mesmo que os outros? Querem respeito e reverência e para isso andam com fardas iguais? Então porque não vão antes para a tropa ou a G.N.R.? Somos assim tão importantes porque estudamos na faculdade? Não brinquem comigo ...
O ensino superiornão devia ser o lugar para descarregar frustrações mas sim para prolongar o nosso constante devir, e a ESAP é um espaço que deve promover a crítica e não a regra, a diversidade e não a uniformização, a ruptura e não a tradição. Não será isto que marca a diferença no universo da arte? Se queremos ser artistas nas várias áreas devemos possuir uma percepeção única, procurando sempre a perspectiva alternativa do mundo, a não ser que apenas nos interesse o diploma para assegurar um emprego.
Meus amigos, quem quiser usufruir da vidaacadémicausando traje e fazendo praxes está à vontade pois cada um faz aquilo que lhe parece mais adequado. Mas devem reflectir bem acerca do estatuto de pretendente a artista e daquilo que esperam atingir com as competências adquiridas no final do curso. Quais são os mundos que querem criar? Querem mesmo criar?
Retirado de: http://emergencianatural.blogs.sapo.pt/
1 comentário:
eu gosto tanto das fardas dos senhores agentes de segurança... e fazem um belo pan-dan com as botas!
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